O salmão é gerado no leito de um rio doce. Dois dos
seus primeiros anos de vida são vividos aí. Sua ‘memória instintiva’ é capaz de
guardar o rio doce que lhe serviu de berço.
Após esse tempo, precipita-se corredeira abaixo em
direção ao mar. Nova morada, novo habitat.
Quando, porém, anuncia-se o período da desova, a
saudade fala mais alto. O rio doce povoa os seus ‘sonhos’, e ele volta para
desovar. Rema contra a maré, corredeira acima. Pescadores, predadores e a
exaustão constituem seus inimigos em potencial. Nada, no entanto, o faz
deter-se. Prossegue destemidamente. As novas vidas são mais importantes do que
o seu cansaço. A piracema é a única alternativa para sua perpetuação.
As águas mansas e mornas o acolhem. A desova
acontece no leito doce do rio doce.
Somos mais ou menos como os salmões. Quando andamos
por descaminhos, bate uma saudade de Deus tão grande no peito, que se a gente não
volta, ele nos procura, nos encontra e nos faz retornar. Porque somente nele as
águas salobras adocicarão, e a vida é capaz de renascer no Rio Doce de sua
misericórdia.
Antonio Luiz Macêdo
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